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  • Pedro Lobato Moura

Crônicas

Contadas pela Fernanda e recriadas por mim.

O quarador

O sol té dá imagens? - ela me pergunta, nós dois no quintal tomando sol.

Quando eu era criança, ficava assim no sol, de olhos fechados, e me vinham imagens. O nosso quintal era no alto do morro, de frente para essa vista, a fazenda, a mata verde, aqui ainda era tudo preservado, não havia essas casas, e lá no fundo, roseada, a Serra da Piedade. Mãe tinha um quarador de roupa, que eu chamava de pedra, era de cimento, na verdade, mas para mim era 'a pedra'. Ali mãe esticava os varais e punha os lençóis para secar e eu deitava debaixo daqueles panos brancos, só de short, eu era novinha, podia tirar a blusa, fechar os olhos e ficar sentindo a brisa, o sol, imaginando meu cavalo alado.

O viveiro

Ao lado do quarador ficava o viveiro de pai, um viveiro enorme, simples, um cercado de tela, um pé de pitanga e um laguinho. Eu entrava ali, pequenininha, e ficava vendo os passarinhos tomando banho. Os passarinhos cantando. Pai tinha muitos lindos passarinhos, que ele mesmo capturava. Depois, eu comecei a ver televisão, Xuxa, fui entendendo as maldades do mundo, aí comecei a ter dó dos passarinhos. Fui soltando um a um. Eu queria mesmo era soltar o Negão, um passo-preto enorme.

Um dia, fui pular a cerca, tinha um prego, me varou a mão: meu pai tinha posto, para descobrir quem andava soltando seus passarinhos. Chorei calada. Três dias depois, soltei o Negão. Ele voou pra cima do telhado, não foi embora. Puxa, Fernanda, pai gritava, o gato vai comer meu passo-preto.

O canavial

E tinha o canavial, para se esconder e ouvir me procurarem.

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