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BALTASAR ENTRE A GRÉCIA E A ÍNDIA

 

 

 

Baltasar tinha uma cabana nos topos do Kurdistão. Um dia o chão tremeu, as rochas ecoaram sons de cascos. Dois homens montados a cavalo surgiram da neblina.

 

Diziam-se apóstolos de um grande exército, os macedônios do general Alexandre. Trezentos mil homens cruzando as montanhas, rumo ao Hindustão, e além.

 

Baltasar deu-lhes de beber chá morno, deu-lhes pão. Era uma fria manhã de terça.

 

Alexandre, o Grande, em pessoa, subiu para ver Baltasar, com Heféstio e alguns outros camaradas, e também Onesícrito, homem observador que vinha registrando por escrito a campanha helênica ao fim do mundo. Passariam a noite na companhia daquele velho de pele escura.

 

“Mas, general”, pergunta, a certa altura, Baltazar, cujos dreadlocks brilhavam dos flocos de neve, “por que a trabalheira?”

 

“Sigo os passos de Heracles e Dioniso, pai e irmão meus, vou até os confins do mundo”, diz Alexandre, o Magno.

 

“Dioniso? Dioniso...”, Baltasar repete, cofiando a basta barba branca, assimilando o divino nome. “Querido, este mistério que procuras, a melhor qualidade dele está é aqui mesmo!” E da cabeleira sua retira um bocado de charas.

 

Naquela noite, Alexandre viveu mais um pouco.

 

A bengala de pai Joaquim

bate devagar mas pode doer

 

O rosário de pai Joaquim

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