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Posâmbulo

 

Finalmente, arranjo uma vaga no Estado, como professor. Fui aprovado no concurso, ao mesmo tempo que Daniela, minha companheira, me anuncia nossa gravidez. Teremos uma linda menina.

 

Outro dia, diante de uma turminha do ensino fundamental, furacõezinhos de oito ou nove anos de idade, me vi contando uma história, a do morto avarento, do livro da maravilhosa Ângela Lago, 'Sete Histórias para Sacudir o Esqueleto'. No conto, ao som da flauta de um menino, um esqueleto dança e vai perdendo as partes até se desconjuntar por completo. As crianças riram muito da minha performance.

 

Apesar das raivas que passei ouvindo certas falas reacionárias, machistas, misógenas do Cigano, devo um pouco a ele essa minha descoberta, de mim como contador de histórias.

 

Assim, arranjo minhas anotações de suas falas num pequeno volume, faço uns desenhos e levo para ele de presente. Toco a campainha, aguardo, sua companheira Fábia atende. "Cigano? Foi pra Goiás". 

 

Não o vi mais.

 

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