top of page
  • Pedro Lobato Moura

Cigano, poemas

POEMAS UMA TARDE

Sentamo-nos, eu e Cigano. Entre nossos assentos, uma mesinha. Enrolamos um fumo de angola. Sobre a mesinha, um Buda de pau claro, uma Santa Bárbara de pau roxo. A Santa dos Raios fica de frente para a porta. O Buda, de costas.

Cigano coloca para tocar um DVD do Pena Branca e Xavantinho. Enquanto pitamos, ele se gaba da ampla vista de sua varanda, dos beija-flores viciados na sua água com açúcar. Louvamos mineirinadas.

Então, para cortar o tédio, ele apanha uma caixinha e um livro de capa dura, vermelho. Dentro da caixinha, dois dados. “Outro dia você me perguntou sobre ler as linhas da mão”, Cigano falou. “Tenho aqui um oráculo, que se joga com estes dados. Quer saber sua sorte? Jogue os dados e consulte o livro”.

Joguei. Deu que eu seria um homem rico.

CAFÉ RARO

Sabe qual a qualidade mais cara de café que há? O café das fezes dos jacus de Guaxupé. Nos montes altos planta-se os cafezais, e os jacus vêm comer os frutos. Digerem a casca e a polpa e cagam as sementes. Destas, se faz um café que chega a setecentos reais o quilo. Café do cu do jacu!

GOSTOS DE JABUTI

Jabuti gosta de jabuticaba. Fruta que não gasta esforço, é só ficar debaixo do pé.

A barriga cheia de jabuticaba dá um soninho - outra coisa que Jabuti adora.

VIDAS ANTEPASSADAS

Parece que fui mezinheiro, eu, ou avô meu? Alma transmigrada?

Eu, ocultamente, envenenava os escravos de um certo sítio. Então chegava, como mascate, e os comprava à preço de favas. Logo mais à frente, os curava, e os revendia a preço de negro bom.

Também ajudava escravo a envenenar senhor, para dividir o espólio. Mascateava nas minas e nos quilombos.

Eis-me aqui, hoje, assim... Será?

20 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page