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Cigano, tramas, falas

Pedro Lobato Moura

TRAMAS

MELODIA E RITMO

Cigano quer que eu lhe ensine a cantar e tocar o maracá. É uma habilidade requerida para se tomar parte nos rituais do Santo Daime.

Cigano frequenta um "centro", comandado por um senhor antigo no Daime, que conheceu a bebida com o próprio Padrinho Sebastião, lá na Amazônia. Homem de família ilustre de Santa Luzia, cheia de gente advogada, ajuizada, este comandante vem lhe cobrando que seja menos desafinado e desajeitado. O bailado no Daime é "marcha", o iniciado faz parte de um "batalhão", a vestimenta é a "farda", as revelações, "galardões".

Cigano me demanda: aprender a cantar e tocar o maracá. Ensino, uai... posso tentar. “Mas você não é professor?” Sim, sim, vamos lá. Colocamos os hinos no aparelho de som, ensaiamos, bailando as marchas e as valsas e tocando o maracá. Cigano é ruim de ritmo, pior ainda no cantar, não sabe respirar. Insistimos e, no fim, há um pequeno progresso.

Ele senta em seu trono de cana-da-índia, suado e sorrindo: “Um amigo me prometeu

que eu tocaria bem o maracá, no dia do meu fardamento. Quando chegou este grande dia, ele me deu de presente um maracá novinho, para minha estreia: um maracá sem as bolinhas. Um chocalho mudo. Assim, toquei bem, ninguém reclamou.”

FALAS

LIÇÕES PARA UM ENROLADO

Depois de um mês sumido, dando muitas aulas, encontro Cigano no ponto de ônibus: “É, professor. O senhor me abandonou. Resolvi aprender sozinho”.

FAZER

"É como a caixa. Você quer fazer uma caixa. Pode usar calculadoras, compassos, medir, calcular. Ou pode ir lá fora, observar as abelhas.

É... como voar. Você pode aprender as matemáticas. Ler os manuais e construir. Ou pode olhar os gansos. Eles sabem porque voam em V."

ECO

"Se não está te acontecendo o que você deseja, pense no eco. É o que você esta emitindo que importa."

PACHECÃO

“Você tem que se espelhar no Pachecão. Conhece?” O professor de Física? “Isso! Um dos maiores palestrantes do Brasil! Estou lendo agora seu livro, A Natureza do Sucesso. Depois te empresto.”

CENTROS DE DAIME

“Esse negócio de Santo Daime está entrando na moda. Medicina indígena, a cura da floresta. Outro dia paguei 300 reais para participar de um trabalho, com uma gente chique da capital, guiado por um xamã vindo do Peru.

Eu sei que você gosta, da Auaska, conhece como se faz: Porque não abrimos um centro nosso? Eu andei em muitos centros de Daime pelo Brasil afora, conheci muitos padrinhos. Podemos observar e anotar tudo o que se faz de bom e de ruim e, em nosso centro, fazer tudo certinho.” Digo que só não misturo dinheiro com Daime. “Ora, dinheiro se mistura em tudo”.

O PIPOQUEIRO

“Eu vi um tal Valdir pipoqueiro que fez isto: Esperou tanto tempo para receber um alvará que, observando a praça, fez uma pesquisa de mercado. Quando a prefeitura liberou, Valdir montou um carrinho de pipoca com 140 inovações! Da pintura ao tempero, ou, por exemplo, o kit higiene: com o saquinho de pipoca vem junto guardanapo, palito de dente e uma balinha de hortelã".

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