RABI JOÃO ZI
Meu pai contava histórias do rabi João Zi. Um sábio, dizia meu pai.
Por exemplo: Rabi João Zi e seu amigo Rui caminhavam pela judeia - o rabi viveu no tempo de Jesus. Vendiam ervas e raízes e faziam um duo musical, guitarra e flauta.
Viram uma multidão ruidosa nas margens da estrada que subia para o Gólgota: era Jesus a caminho do Calvário, vivendo Sua Paixão. A multidão os empurrava, ao rabi e a seu amigo, sem que eles quisessem, cada vez mais para perto do espetáculo: Jesus e outros condenados subindo a via dolorosa.
Rui disse: “Eis um homem bom: Não tem outro crime que falar a verdade, e por ela morrerá. Creio que frutífero será este seu exemplo.”
O rabi, sempre muito sereno e prático, observou:
“Vejo o homem subindo, sob chibatadas e zombarias, carregando sua cruz nas costas. Olha para o chão. Me pergunto se deseja realmente estar ali. Lembro-me de um cipó, das matas da Índia, que descobriram ser remédio muito salutar para os ânimos. Tão bom remédio que, em poucos anos, já não se encontrava mais desse cipó em estado selvagem, e aqueles que o cultivavam pediam por ele um alto preço, pois dá trabalho cultivá-lo. Comprado, ele é cortado, macerado, socado, escaldado.
Há um outro cipó, porém, de uma florzinha discreta, que não se acha para ele nenhuma utilidade. Ele vive até o fim de seus dias, centenas de anos, nas matas sombrias, sem ser incomodado. Como dizia um chinês amigo meu: Todos reconhecem a utilidade do útil, mas poucos reconhecem a utilidade do inútil.”
Enquanto isso, Jesus se aproximava. E quando Jesus passava pelo rabi João Zi, eles se olharam. E as chibatadas e as zombarias pararam no ar, por um segundo bem mais longo que os demais, e Jesus sorriu para o rabi João Zi, ambos serenos.
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