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ÁRVORES INFANTIS

 

 

Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

 

A xixi de macaco, dita espadótia, veio do Gabão, eu pesquisei. Uma grande, da flor laranja, que tem um baguinho parecendo mesmo uma espada que, se cai antes da flor desabrochar, fica cheio de água. Servia para nós, moleques, apertar bem perto da cara dos colegas, espirrado neles aquela aguinha fedida.

 

O bico de papagaio, do vermelho, fornecia minha tribo de guerreiros zulu, aquelas florezinhas com aquele cabelinho e aqueles lábios grossos. O leite dessa planta não é bom, é nódia.

 

A pata de vaca, da branca e da rosa, mais comum, que dá aquelas vagens que quando secam, voam longe, enchem a calçada e ficam duras e deliciosas de se pisar e ouvir o barulho de esmagar. Eu pisava com gosto, desafiando as neuroses do mundo.

 

O hibisco tinha o ritual de despir a noiva. A noiva era a flor. A noiva quer ir ao banheiro. A noiva tira a coroa (o gineceu), a noiva tira o vestido (as pétalas), a noiva tira a calçola (as sépalas), sobrava o pedúnculo e, na ponta, o ovário da flor, que a gente apertava e dizia, a noiva fez cocô, e o óvulo da planta caia, verdinho, na mão do espectador.

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