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Microcontos

Pedro Lobato Moura

Esquecido (inspirado em um sonho)

Caminhei até a casinha, peguei a trilha, a grama, a neblina... Entrei, sentei, aceitei o seu café. Porque diabos sou tão esquecido?

Sonhos

Foi em sonho que me deram meu chapéu. Depois ele veio a ser desperto.

Em sonho, meu avô caminhou comigo, mão esquerda no meu ombro direito, até um lugar de onde eu visse as coisas do alto. “Tudo isso será seu”, ele disse, com um gesto abarcando a paisagem.

O Bobo

O bobo embarca num Titanic da vida. Só está ali porque é da família. Todos pensam em America, o bobo pensa em um amor impossível. Quando o barco se choca com o iceberg, todos se desesperam, o bobo compõe uma sonata. Afundando, o bobo bebe hidromel com os elfos.

Morreram, o bobo e todos os outros.

Baltasar entre a Grécia e a Índia

Baltasar tinha cabana nos topos do Kurdistão. Um dia o chão tremeu, as rochas ecoaram leps, flaps, sons de cascos. Dois homens montados a cavalo surgiram da neblina.

Diziam-se apóstolos de um grande exército, os macedônios do general Alexandre. Trezentos mil homens cruzando as montanhas, rumo ao Hindustão.

Baltasar deu-lhes de beber chá morno, deu-lhes pão. Era uma fria manhã de terça.

Alexandre, o Grande, em pessoa, subiu para ver Baltasar, com Heféstio e outros camaradas, e também Onesícrito, homem observador, que vinha registrando por escrito a campanha dos gregos ao longínquo oriente. Passariam a noite na companhia do velho de pele escura.

“Mas, general”, a certa altura, pergunta Baltazar, cujos dreadlocks brilhavam de flocos de neve, “por que a trabalheira?”

“Sigo os passos de Héracles e Dioniso, pai e irmão meus. Vou até o fim do mundo”, diz Alexandre, magno.

“Dioniso...”, Baltasar repete, cofiando a basta barba, assimilando o divino nome. “Querido, este mistério que procuras, a melhor qualidade está é aqui mesmo!” E da cabeleira retira um bocado de charas.

Naquela noite, Alexandre viveu mais um pouco.

A bengala de pai Joaquim

bate devagar mas pode doer.

O rosário de pai Joaquim

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