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  • Pedro Lobato Moura

Microcontos


O que uma espada Hanso não pode cortar

Hatori Hanso é o maior fazedor de catanas do mundo. Quando de um encontro seu com Buda, jurou não mais fabricá-las.

Para restaurar o equilíbrio no universo, fazer justiça ou algo assim, Hanso quebrou, vinte e cinco anos depois, aquele juramento.

Fez a mais incrível espada samurai que o mundo já tinha visto. Está tudo relatado naquele filme do Quentin Tarantino.

A pergunta é: O que uma espada Hanso não pode cortar? Tem de haver algo que ela não corta, algo além das coisas – ela corta diamantes. Algo além das ideias – ela corta os cérebros.

A si mesma?

Lacraia frita

Faz um calor de apocalipse. À beira da derradeira estrada, que leva os últimos automóveis ao único lugar que resta – muito a norte – eu vivo de vender espeto de lacraia frita.

Tacho de Kali

Nossa mãe está sentada, seus oitocentos braços segurando mil frituras. Gorda, de não mais sair da cama, seu sangue grosso já não corre. Antes eram rios, antes era um coração que regia, apaixonado, a vida. Agora anda a marretadas, agora vai um passo por dia, mesmo assim, graças às drogas, senão nem ia, os glóbulos em lenta fila indiana. Kali, mãe.

Placas de gente entalada, nossa mãe com a pá raspa do tacho. Homens e mulheres comem homens e mulheres tão rápido! Kali nos vê como flashes, um piscar, sou eu comendo hamburger, outro piscar, sou eu o hamburger.

As belas formas adormecem, enquanto Kali a tudo dissolve, e implode. Tudo vira condomínio, shopping popular e depois, nada.


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